
Autora: Palestrante Claudia Kodja
A guerra na Síria abrange conflitos locais, regionais e geopolíticos. Esse acúmulo de propósitos, torna difícil a compreensão e impossível a conciliação
Os conflitos de natureza local são liderados por diversas facções, majoritariamente islâmicas, contrárias aos grupos e milícias favoráveis o governo Sírio. Entre estes grupos estão o Exército Sírio, a Guarda Revolucionária do Irã e o Grupo Armado Hizbollah do Líbano.
No âmbito regional, a Síria é palco da “guerra fria” entre os muçulmanos xiitas do Irã e os muçulmanos sunitas da Arábia Saudita. Neste sentido, o conflito na Síria se tornou uma guerra indireta, entre sauditas e iranianos, pela hegemonia no Oriente Médio.
Em termos geopolíticos a Síria é a terra escolhida para mais um espetáculo de barbárie protagonizado pela Rússia. São inúmeras as razões, políticas e econômicas, que colocam o país a favor da permanência do estado de guerra na região, com ou sem o presidente Bashar al-Assad, entre estas:
1. Inviabilizar a construção dos gasodutos Irã-Iraque-Síria e do Qatar. Ambos têm como finalidade, limitar a dependência da União Europeia, com relação ao gás da Rússia.
Proteger a base Naval de Tartus, (a única base militar russa com acesso ao Mediterrâneo), e a base aérea de Latakia.
2. Utilizar a Síria como “moeda de troca” em um processo de negociação das sanções econômicas impostas a Rússia, após intervenção militar na Ucrânia.
3. Manter o ritmo bilionário de venda de armas para a Síria e ratificar sua posição de maior fornecedor de armas do mundo. Damasco é o sétimo maior comprador de armamentos da Rússia.
4. Impedir o avanço dos grupos islâmicos independentes e a ameaça que os mesmos representam ao território russo.
Tudo isso está acontecendo no momento em que, a estabilidade do Oriente Médio, parece não ser um fator relevante para os Estados Unidos.
A relutância do governo norte-americano em interferir na guerra civil da Síria seria impensável, no final do século XX. Época na qual, qualquer perturbação na região, assumiria uma grande significância política para Washington.
A introdução do óleo de xisto nos Estados Unidos reduziu de forma expressiva a possibilidade de que instabilidades no Oriente Médio, possam impactar o crescimento sustentado nos Estados Unidos, e consequentemente o interesse estratégico sobre a região.
A depender deste contexto, o fim do genocídio sírio depende mais da comoção em torno das imagens de crianças soterradas, do que a clemência dos políticos ou da força de organizações intergovernamentais.
“Talvez daí é que venha sua repugnância por todo extremismo. Os extremos delimitam a fronteira além da qual a vida termina, e a paixão pelo extremismo, em arte como em política, é desejo de morte disfarçada.” Milan Kundera.
Fonte: https://kodja.com.br/siria/
CLAUDIA KODJA
Professora, Escritora e Palestrante